Em dia de anúncio de PIB negativo, Guedes afirma que Brasil ‘está decolando de novo’

Ministro da Economia se baseou em dados da arrecadação de impostos federais. Mais cedo, IBGE informou que PIB recuou 0,1% no primeiro trimestre, indicando nova recessão técnica. O ministro da Economia, Paulo Guedes, em audiência na Câmara no último dia 1º
Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, se referiu nesta quinta-feira (2) ao resultado da arrecadação de impostos federais para afirmar que o Brasil está “decolando de novo”.
Nesta quinta-feira (2), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Produto Interno Bruto (PIB) registrou retração de 0,1% no terceiro trimestre deste ano, o que representa uma nova “recessão técnica” — o nível de atividade já havia recuado nos três meses anteriores.
“Mês a mês, batemos a arrecadação histórica, em termos reais, tirando a inflação. A arrecadação está muito forte, o que mostra que o Brasil está decolando de novo, pelo nosso tempo. Preparar para decolagem”, afirmou o ministro, em evento em Brasília sobre os dez anos de concessões aeroportuárias.
PIB do Brasil cai 0,1% no 3º trimestre e país entra em recessão técnica
Em outubro, a arrecadação de impostos, contribuições e demais receitas federais atingiu R$ 178,742 bilhões. Foi o melhor resultado para o período em cinco anos. Na parcial do ano, totalizou R$ 1,592 trilhão, novo recorde histórico.
O ministro da Economia citou também previsões de investimentos na economia brasileira, relacionadas aos processo de concessões e privatizações, que já somam, de acordo com Guedes, mais de R$ 600 bilhões para os próximos anos.
“O crescimento está contratado. Essa conversa de que o Brasil não vai crescer é coisa de maluco. Gás natural, petróleo, saneamento, cabotagem, ferrovias, aeroportos. Está tudo contratado, R$ 600 bilhões, e vem mais R$ 100 bilhoes com o 5G”, acrescentou Guedes.
Com o processo de concessões e privatizações em andamento, que contemplam investimentos nos próximos anos, ele declarou que o “Brasil está condenado a crescer”.
“A pergunta é se vai ter um pouco mais ou um pouco menos de inflação. Mas aprovamos o BC independente, que vai atuar, pela primeira vez, em um ano eleitoral”, concluiu.
Precatórios
O ministro Paulo Guedes observou que a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, está operando em alta nesta quinta-feira, apesar do anúncio da recessão técnica, e avaliou que isso se deve à aprovação, pelo Senado Federal, da PEC dos Precatórios.
Essa é a principal aposta do governo para bancar o programa social Auxílio Brasil. A expectativa do governo é que o projeto deve abrir espaço superior a R$ 106 bilhões no orçamento. É uma parte desses recursos que será usada para bancar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.
O texto já havia sido aprovado pela Câmara. Entretanto, como sofreu alterações na tramitação pelo Senado, a PEC voltará a ser analisada pelos deputados.
“[A Bolsa] está subindo porque acabou de ser aprovada a PEC em segundo turno. Significa que os gastos públicos continuam sob controle. Tem toda uma conversa fiada de que o Brasil perdeu o controle sobre o fiscal. É uma conversa fiada, uma narrativa política, fake news”, declarou.
Ele avaliou que a aprovação da PEC dos Precatórios pelo Senado representa o controle da quarta maior despesa orçamentária, atrás dos gastos com previdência, dos juros da dívida pública e das despesas com servidores públicos.
“A narrativa falsa era que querem furar o teto. Ao contrario, queremos os precatórios embaixo do teto [de gastos, que limita a maior parte das despesas pela inflação]”, acrescentou Guedes.
‘Bola de neve’
Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão vinculado ao Senado, se passar no Congresso, a PEC dos Precatórios pode gerar uma “bola de neve” de R$ 850 bilhões em precatórios não pagos até 2026, em razão da limitação dos valores a serem pagos.
Pela proposta em discussão no Congresso Nacional, os precatórios acima de R$ 66 milhões serão limitados e pagos por meio de negociação; abatimento de dívidas; ou aquisição de ativos públicos (como imóveis ou privatizações).
Para o órgão, além de gerar uma “bola de neve” de dívidas não pagas, as mudanças propostas na PEC também elevariam o chamado “risco fiscal”, isto é, a percepção negativa dos investidores sobre as contas públicas.
“Como consequência dos juros mais altos e do quadro de maior incerteza, amplificado pela crise energética, a perspectiva é que o crescimento econômico fique menor do que o indicado no atual cenário base da IFI (1,7% para 2022), mas possivelmente acima do previsto no cenário pessimista (0,1% para 2022)”, avaliou.