Mercado prevê que Brasil terá desaceleração econômica em 2023, diz Campos Neto

De acordo com o presidente do Banco Central, previsão leva em conta necessidade de redução de gastos públicos e retirada de benefícios pagos a famílias de baixa renda. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira (24) que, diante da expectativa de um “arrocho” maior nas contas públicas, com controle de despesas, além da retirada de benefícios e do impacto do processo de alta dos juros, os economistas do mercado entendem que a economia brasileira vai desacelerar em 2023.
Em pesquisa realizada pelo Banco Central com mais de 100 instituições financeiras na semana passada, economistas dos bancos elevaram de 2% para 2,02% a previsão de alta do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Ao mesmo tempo, reduziram a estimativa de crescimento de 2023 de 0,41% para 0,39%.
Segundo Campos Neto, parte do crescimento que está sendo registrado neste ano, “ainda que pequena”, foi estimulado por medidas adotadas pelo governo.
Campos Neto refere-se à PEC Kamikaze, aprovada meses antes das eleições, que elevou o auxílio para a população de baixa renda de R$ 400 para R$ 600, eleva o valor do auxílio gás e institui um benefício para caminhoneiros. Os benefícios valem somente até o fim do ano.
Pacotão de benefícios temporários começa a ser pago nesta terça-feira (9)
O presidente do BC avaliou que a redução de tributos federais sobre gasolina e o diesel, também com validade até o fim deste ano, é outro fator que ajuda a estimular a economia em 2022 e, por consequência, a retirada do estímulo, contribui para uma desaceleração do PIB no ano que vem.
“E há a percepção de que essas medidas serão retiradas. Tanto medidas de auxílio quanto redução de impostos. Ano que vem tem a volta de parte disso. Então retrai um pouco [a economia]”, declarou Campos Neto, em evento transmitido pela internet.
Além disso, ele avaliou que o processo de alta dos juros, para controlar a inflação, também contribuirá para desacelerar a economia no próximo ano. Atualmente, a taxa Selic, fixada pelo Banco Central, está em 13,75% ao ano, após doze altas consecutivas, o maior patamar em seis anos.
“As pessoas conjugam fatores, que ano que vem será um ano de um arrocho maior na parte fiscal, de retirada de algumas medidas, é isso que o mercado entende. E, junto com o efeito de juros, que foi feito hoje que vai propagar ano que vem, isso faz com que as pessoas tenham estimativa de crescimento mais baixo [em 2023]”, acrescentou o presidente do Banco Central.
Ele observou, ainda, que a economia mundial está em processo de revisão para baixo nas estimativas de nível de atividade, com a possibilidade “alta” de os Estados Unidos apresentarem uma “desaceleração mais forte”. Esse fator também atua para conter o PIB brasileiro no próximo ano, acrescentou ele.
Inflação
Apesar da deflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) em julho e na prévia de agosto, Campos Neto avaliou que a inflação ainda está “muito alta” no Brasil. Em doze meses até a prévia de agosto, os preços subiram 9,60%.
O presidente do BC também comentou sobre a redução de impostos sobre combustíveis, estratégia adotada pelo governo e pelo Congresso. Apesar de segurarem a inflação em 2022, essas medidas pressionam os preços para 2023, conforme já alertaram diversos economistas.
Para definir a taxa básica de juros, o BC olha para a inflação projetada para os próximos seis a 18 meses. Esse é o chamado “horizonte relevante” da política monetária (definição de juros para conter a inflação).
Campos Neto lembrou que o Banco Central optou por começar a focar mais no ano de 2024, ao invés do ano que vem, após a mudança nos preços de combustíveis.
“A gente entendeu que isso era melhor do que fazer uma meta ajustada [para 2023]”, concluiu.
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