Banco Central dos EUA sobe juros em 0,25 ponto percentual, para o maior patamar em 16 anos

Novo intervalo para o referencial de juros está na faixa de 5% a 5,25%. Foi a 10ª alta seguida. Sede do Federal Reserv (Fed), Banco Central dos EUA.
REUTERS/Joshua Roberts
O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, aumentou os juros do país nesta quarta-feira (3) em 0,25 ponto percentual (p.p.), para uma faixa de 5% a 5,25% — na 10ª alta consecutiva e marcando o maior nível das taxas desde 2007.
A decisão veio em linha com as estimativas do mercado e, segundo a autarquia já vinha sinalizando, reflete os níveis ainda altos da inflação norte-americana.
No comunicado divulgado nesta quarta-feira, o Fed deixou de mencionar que “algum endurecimento adicional pode ser apropriado”. A citação constava no documento anterior, e sua retirada foi vista por analistas como uma possível sinalização de que o ciclo de aperto monetário está perto do fim.
Em entrevista coletiva feita após a divulgação do texto, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o fato de o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) ter deixado de prever um novo aumento das taxas é importante, mas reiterou que a decisão de uma “pausa” no ciclo de aperto monetário ainda não foi feita.
“Tomaremos essa decisão a cada reunião, com base nos dados econômicos disponíveis”, disse o banqueiro central.
Sistema bancário e dívida pública
Em outro ponto importante, o Fomc também voltou a citar a turbulência que atingiu o sistema bancário norte-americano, diante da quebra dos bancos médios Silicon Valley Bank e Signature Bank e da crise enfrentada pelo First Republic Bank.
“O sistema bancário dos EUA é sólido e resiliente. Condições de crédito mais apertadas para famílias e empresas devem pesar na atividade econômica, nas contratações e na inflação. A extensão desses efeitos permanece incerta. O Comitê permanece altamente atento aos riscos de inflação”, disse.
Outro fator mencionado por Powell, e que também influenciou a decisão do Fed, é a dívida pública do país. Isso porque o governo dos Estados Unidos corre o risco de ficar sem dinheiro depois de 1º de junho caso não haja um aumento do teto da dívida, que está em discussão no Congresso dos EUA.
O teto da dívida é um limite estabelecido pelo parlamento norte-americano sobre o montante que o governo pode arrecadar com a venda de títulos públicos. Atingir esse limite significa que o país não pode mais captar recursos dessa forma, o que pode impactar o funcionamento da máquina pública.
“É essencial que o teto da dívida aumente para que o governo consiga pagar suas dividas. Caso contrário, estaríamos em território desconhecido, e os efeitos na economia seriam incertos e adversos”, continuou Powell.
Sobre o futuro da maior economia do mundo, o banqueiro central afirmou que não descarta uma “leve recessão” no país. Reforçou, no entanto, que é possível que o mercado de trabalho desacelere gradativamente sem causar, necessariamente, um “aumento extremo” do desemprego.
“Os salários têm se movido para baixo. Então, acredito que ainda é possível evitarmos uma recessão”, disse.

Combate à inflação
O banco central norte-americano vem aplicando altas sucessivas na taxa básica de juros para conter a alta inflação do país. Em termos simples, o arrocho monetário é uma forma de dificultar o acesso ao crédito, desaquecer a atividade econômica e, assim, incentivar a queda nos preços.
O objetivo do Fed é aplicar uma política monetária que reduza a inflação à casa dos 2% — marca que não é atingida desde fevereiro de 2021, quando chegou 1,7% no acumulado em 12 meses. Desde então, foram sucessivas altas na inflação — atualmente na casa dos 5% — e, consequentemente, na taxa de juros, que vem em uma crescente desde março de 2022.
Na última divulgação, em março, o banco central dos EUA já havia elevado o referencial de juros em 0,25 ponto percentual, para o intervalo de 4,75% a 5% ao ano, já dando sinais de desaceleração no avanço dos juros do país.
Efeitos no Brasil
Altas de juros nos Estados Unidos tendem a se refletir em alta na cotação do dólar no Brasil, uma vez que há saída da moeda do país, com o objetivo de buscar a melhor remuneração lá fora.
Mais uma vez, essa elevação já estava, no jargão dos investidores, “precificada” – ou seja, já se contava com uma alta nessa proporção. Assim, a divulgação da decisão do Fed não provocou movimentos mais acentuados na cotação do dólar frente ao real nesta quarta.
Os efeitos no Brasil, contudo, também podem ser de longo prazo: a alta de juros nos EUA indica uma desaceleração da economia mundial nos meses seguintes, já que os empréstimos e investimentos ficam mais caros.
Essa desaceleração tende a ter efeitos por aqui na forma de uma menor demanda pelos produtos e serviços brasileiros — que pode, no entanto, ajudar a reduzir a inflação doméstica.
O que dizem analistas
Para Kaian Arantes, economista internacional da Parcitas Investimentos, o discurso da autoridade monetária norte-americana é de “fim de ciclo”.
“Meu entendimento é que o Fed está disposto a pausar a alta de juros. Se houver algum novo aumento, será de ajuste adicional. O discurso é similar ao do Banco Central do Brasil”, afirmou.
Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital, destacou que o principal indicativo de que o ciclo de aumentos chegou ao fim é a retirada do trecho — que constava nos últimos comunicados — em que o Fomc sinalizava altas nas decisões seguintes.
“Ainda assim, mantém uma linguagem que possibilita o aumento dos juros caso os dados venham piores do que o esperado”, ponderou.