O ano da inflação: relembre vilões, causas e impactos do aumento de preços em 2022
Brasileiros pagaram muito mais caro pela gasolina até meados do ano, depois tiveram alívio. Alimentos, por outro lado, pesaram no bolso o ano inteiro e fizeram sobrar mês para os salários. O ano de 2022 foi marcado pela inflação.
Em abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no país, bateu em 12,13% – a maior taxa para um período de 12 meses desde 2003.
O alívio começou a aparecer no segundo semestre, depois que cortes de impostos baixaram “na marra” alguns preços, especialmente o da gasolina. Em julho, primeiro mês após o projeto sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), o IPCA mensal registrou queda – ou seja, deflação – pela primeira vez depois de 25 meses de taxas positivas.
A deflação durou ainda outros dois meses. Os preços voltaram a subir em setembro, mas a variação acumulada em 12 meses tem sido menos intensa agora do que no começo do ano.
Segundo a prévia do IPCA divulgada em 23 de dezembro, o índice fechou o ano de 2022 com variação acumulada de 5,90%, menor taxa em 20 meses. O percentual significa um estouro da meta do indicador, de 3,5%, que seria considerada cumprida se oscilasse entre 2% e 5%.
Mesmo que a inflação termine o ano longe do pico registrado em abril, o aumento geral dos preços foi o vilão da economia neste ano e atingiu mais severamente os mais pobres – com impacto direto na quantidade de comida no carrinho de supermercado e no prato servido à mesa dos brasileiros.
Relembre as causas e os impactos da inflação neste ano:
Gasolina, etanol e diesel
Em abril, durante o pico do indicador, a gasolina respondeu, sozinha, por 0,17 ponto percentual do índice. E os brasileiros só falavam disso nas redes sociais, nas ruas, nos comércios. O salto chocou e provocou corridas aos postos antes de novos anúncios de reajuste.
A Petrobras passou, então, a segurar os aumentos do combustível praticados no mundo todo ‘na marra’. A empresa passou semanas entubando prejuízos quando o valor do barril subia internacionalmente. E em julho, diminuiu pela primeira vez no ano o valor pelo qual o combustível era vendido às distribuidoras.
Além da política de preços da empresa, o Governo Federal também diminuiu impostos e tributos sobre o combustível.
Mas essa queda não significou um alívio para a população de renda mais baixa. Ainda no campo dos combustíveis, o diesel, que impacta no preço do frete e, portanto, de diversos produtos comercializados, demorou mais para cair. Durante meses, a Petrobras ignorou o diesel em seus reajustes.
Bomba de gasolina em posto de combustíveis de Macapá
Jorge Júnior/Rede Amazônica
Diferente da gasolina e etanol, o diesel acumula alta nos últimos 12 meses segundo o IPCA-15. Entre os motivos, estão: a demora para recuperar os preços após a explosão da guerra, a opção da Petrobras por deixar uma margem de segurança do combustível diante de um risco de desabastecimento no país, e o ICMS que já era mais baixo para o diesel antes do projeto sancionado.
O diesel é importante porque seu valor impacta no preço do frete por conta do transporte de alimentos e produtos. Por isso, o aumento reflete em toda a cadeia.
Alimentos
Os alimentos não viram trégua na alta de preços. Segundo o IPCA-15 de dezembro, 35 dos 50 produtos com as maiores altas no ano pertenciam ao grupo de alimentos e bebidas. A cebola ficou em primeiro lugar no ranking, que também tinha maçã, banana, alimento infantil, farinha, milho, batata, pão, macarrão, leite, manteiga e até tempero.
Com inflação dos alimentos, brasileiro está comprando mais biscoito e salgadinhos
Reprodução/TV Globo
Por isso, o alívio de inflação que vem sendo registrado desde o meio do ano ficou parado na classe média, uma vez que não caíram de preço itens importantes para os mais pobres. Esse aumento pesou mais para as famílias de baixa renda, porque elas concentram seus gastos em despesas básicas.
Em julho, uma reportagem do g1 mostrou que o preço de uma compra com alguns itens da cesta básica passou de cerca de R$ 140 em 2020 para mais de R$ 200 em 2022.
Mesmo carrinho de compras salta mais de R$ 60 em dois anos
g1
O aumento da carne levou famílias a procurarem por carcaça e ossos de animais em açougues e supermercados, como no ano passado. E o preço do leite fez aparecerem, nas prateleiras, bebidas lácteas à base de soro de leite que confundiram muitos consumidores.
Como consequência do aumento de preços (mas não só dele), muitas famílias voltaram a viver situações de fome e pobreza no Brasil. Em junho, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Penssan revelou que havia 33 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no país.
Energia
A energia elétrica teve um desempenho muito parecido com a gasolina. O pico ocorreu em 2021 devido à crise hídrica, mas 2022 herdou aumentos na conta de luz que passaram de 20%.
Os reajustes deste ano refletiram, entre outros motivos, a alta da inflação, uma vez que os contratos de compra e distribuição de energia são reajustados pelo IPCA e pelo Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), respectivamente.
Também sofreram efeito do pagamento de parte dos elevados custos para geração de energia no ano passado. Durante alguns meses, vivemos com bandeira vermelha e até bandeira vermelha tarifa 2.
Mas os preços da energia também foram ‘contidos’ por várias medidas do governo para limitar os aumentos, como o teto da cobrança de ICMS sobre itens essenciais.
As causas
As causas da inflação vieram de fatores conjunturais, explica Fernando Agra, economista da Universidade Federal de Juiz de Fora. A guerra na Ucrânia provocou mais um desarranjo nas cadeias produtivas, que já havia se iniciado com a pandemia de Covid-19, pontua.
“Tivemos aumento no preço do petróleo, problemas na logística para distribuição de alguns grãos no mercado internacional, o dólar se manteve alto, o que estimulou as exportações. Então faltaram produtos aqui dentro porque o produtor foi vender lá fora para ganhar mais”, explica Agra.
Além dos produtos mais caros aqui dentro e da preferência pelo mercado externo, também encareceram os produtos e insumos importados, como os fertilizantes, relembra. “Ainda tivemos uma crise de abastecimento que quase comprometeu a nossa produção agrícola”, diz.
O economista cita, ainda, outros fatores que ajudaram a jogar incertezas na economia brasileira: a variante Omicron no começo do ano, que adiou a abertura de alguns setores de serviços; incerteza política; falta de investimentos em fontes alternativas de energia, modal de transporte e qualificação da mão de obra para aumentar a produtividade.
Segundo o especialista, a expectativa é que haja uma leve desaceleração da alta de preços, sobretudo de alimentos, para 2023, mas “não tem otimismo em relação a queda”. Mas vai depender, além dos fatores externos e internos, da política econômica e fiscal adotada pelo novo governo.
Em abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no país, bateu em 12,13% – a maior taxa para um período de 12 meses desde 2003.
O alívio começou a aparecer no segundo semestre, depois que cortes de impostos baixaram “na marra” alguns preços, especialmente o da gasolina. Em julho, primeiro mês após o projeto sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), o IPCA mensal registrou queda – ou seja, deflação – pela primeira vez depois de 25 meses de taxas positivas.
A deflação durou ainda outros dois meses. Os preços voltaram a subir em setembro, mas a variação acumulada em 12 meses tem sido menos intensa agora do que no começo do ano.
Segundo a prévia do IPCA divulgada em 23 de dezembro, o índice fechou o ano de 2022 com variação acumulada de 5,90%, menor taxa em 20 meses. O percentual significa um estouro da meta do indicador, de 3,5%, que seria considerada cumprida se oscilasse entre 2% e 5%.
Mesmo que a inflação termine o ano longe do pico registrado em abril, o aumento geral dos preços foi o vilão da economia neste ano e atingiu mais severamente os mais pobres – com impacto direto na quantidade de comida no carrinho de supermercado e no prato servido à mesa dos brasileiros.
Relembre as causas e os impactos da inflação neste ano:
Gasolina, etanol e diesel
Em abril, durante o pico do indicador, a gasolina respondeu, sozinha, por 0,17 ponto percentual do índice. E os brasileiros só falavam disso nas redes sociais, nas ruas, nos comércios. O salto chocou e provocou corridas aos postos antes de novos anúncios de reajuste.
A Petrobras passou, então, a segurar os aumentos do combustível praticados no mundo todo ‘na marra’. A empresa passou semanas entubando prejuízos quando o valor do barril subia internacionalmente. E em julho, diminuiu pela primeira vez no ano o valor pelo qual o combustível era vendido às distribuidoras.
Além da política de preços da empresa, o Governo Federal também diminuiu impostos e tributos sobre o combustível.
Mas essa queda não significou um alívio para a população de renda mais baixa. Ainda no campo dos combustíveis, o diesel, que impacta no preço do frete e, portanto, de diversos produtos comercializados, demorou mais para cair. Durante meses, a Petrobras ignorou o diesel em seus reajustes.
Bomba de gasolina em posto de combustíveis de Macapá
Jorge Júnior/Rede Amazônica
Diferente da gasolina e etanol, o diesel acumula alta nos últimos 12 meses segundo o IPCA-15. Entre os motivos, estão: a demora para recuperar os preços após a explosão da guerra, a opção da Petrobras por deixar uma margem de segurança do combustível diante de um risco de desabastecimento no país, e o ICMS que já era mais baixo para o diesel antes do projeto sancionado.
O diesel é importante porque seu valor impacta no preço do frete por conta do transporte de alimentos e produtos. Por isso, o aumento reflete em toda a cadeia.
Alimentos
Os alimentos não viram trégua na alta de preços. Segundo o IPCA-15 de dezembro, 35 dos 50 produtos com as maiores altas no ano pertenciam ao grupo de alimentos e bebidas. A cebola ficou em primeiro lugar no ranking, que também tinha maçã, banana, alimento infantil, farinha, milho, batata, pão, macarrão, leite, manteiga e até tempero.
Com inflação dos alimentos, brasileiro está comprando mais biscoito e salgadinhos
Reprodução/TV Globo
Por isso, o alívio de inflação que vem sendo registrado desde o meio do ano ficou parado na classe média, uma vez que não caíram de preço itens importantes para os mais pobres. Esse aumento pesou mais para as famílias de baixa renda, porque elas concentram seus gastos em despesas básicas.
Em julho, uma reportagem do g1 mostrou que o preço de uma compra com alguns itens da cesta básica passou de cerca de R$ 140 em 2020 para mais de R$ 200 em 2022.
Mesmo carrinho de compras salta mais de R$ 60 em dois anos
g1
O aumento da carne levou famílias a procurarem por carcaça e ossos de animais em açougues e supermercados, como no ano passado. E o preço do leite fez aparecerem, nas prateleiras, bebidas lácteas à base de soro de leite que confundiram muitos consumidores.
Como consequência do aumento de preços (mas não só dele), muitas famílias voltaram a viver situações de fome e pobreza no Brasil. Em junho, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Penssan revelou que havia 33 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no país.
Energia
A energia elétrica teve um desempenho muito parecido com a gasolina. O pico ocorreu em 2021 devido à crise hídrica, mas 2022 herdou aumentos na conta de luz que passaram de 20%.
Os reajustes deste ano refletiram, entre outros motivos, a alta da inflação, uma vez que os contratos de compra e distribuição de energia são reajustados pelo IPCA e pelo Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), respectivamente.
Também sofreram efeito do pagamento de parte dos elevados custos para geração de energia no ano passado. Durante alguns meses, vivemos com bandeira vermelha e até bandeira vermelha tarifa 2.
Mas os preços da energia também foram ‘contidos’ por várias medidas do governo para limitar os aumentos, como o teto da cobrança de ICMS sobre itens essenciais.
As causas
As causas da inflação vieram de fatores conjunturais, explica Fernando Agra, economista da Universidade Federal de Juiz de Fora. A guerra na Ucrânia provocou mais um desarranjo nas cadeias produtivas, que já havia se iniciado com a pandemia de Covid-19, pontua.
“Tivemos aumento no preço do petróleo, problemas na logística para distribuição de alguns grãos no mercado internacional, o dólar se manteve alto, o que estimulou as exportações. Então faltaram produtos aqui dentro porque o produtor foi vender lá fora para ganhar mais”, explica Agra.
Além dos produtos mais caros aqui dentro e da preferência pelo mercado externo, também encareceram os produtos e insumos importados, como os fertilizantes, relembra. “Ainda tivemos uma crise de abastecimento que quase comprometeu a nossa produção agrícola”, diz.
O economista cita, ainda, outros fatores que ajudaram a jogar incertezas na economia brasileira: a variante Omicron no começo do ano, que adiou a abertura de alguns setores de serviços; incerteza política; falta de investimentos em fontes alternativas de energia, modal de transporte e qualificação da mão de obra para aumentar a produtividade.
Segundo o especialista, a expectativa é que haja uma leve desaceleração da alta de preços, sobretudo de alimentos, para 2023, mas “não tem otimismo em relação a queda”. Mas vai depender, além dos fatores externos e internos, da política econômica e fiscal adotada pelo novo governo.