Monitor do PIB indica em maio pior queda desde início da pandemia, diz FGV

Atividade econômica em maio foi fortemente influenciada pelo comportamento da agropecuária. agro, economia, pib, agronegócio
Rodolfo Buhrer/Reuters
A atividade econômica de maio no país caiu 3% ante abril, na leitura do Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV). Foi a pior queda nessa comparação ante mês anterior desde abril de 2020 (-10,3%), informou Juliana Trece, economista do Núcleo de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da fundação (FGV/Ibre).
Na prática, a retirada do efeito benéfico, na economia, da colheita de soja — que normalmente ocorre nos primeiros meses do ano — levou à retração intensa, explicou a técnica. A projeção sinaliza resultado desfavorável para PIB do segundo trimestre, diz a especialista.
Ao detalhar a trajetória do indicador em maio, a técnica reiterou que o resultado foi fortemente influenciado por comportamento da agropecuária. Esse setor mostrou queda de 17,9% em maio ante abril, a mais forte queda da série do Monitor do PIB, iniciada em 2000.
Na comparação com maio de 2022, o recuo foi de 3%. Isso porque o efeito da safra recorde de soja prevista para esse ano, que impulsionou os desempenhos do indicador da FGV, e do próprio PIB oficial calculado pelo IBGE, no começo do ano, já foi contabilizado em meses anteriores, explicou a economista. Agora, começa a ser “retirado” do cálculo dos resultados da atividade econômica, completou ela.
“Esse recuo [do Monitor do PIB] assusta. Mas apesar desse número assustar muito, essa ‘superqueda’ veio depois de meses de forte crescimento [na economia]”, lembrou Juliana Trece.
Ela ponderou que o impacto da “retirada” do efeito benéfico da agropecuária impulsionada pela safra recorde de soja já era esperado. Em seu entendimento, houve oscilação nos resultados de atividade, em curto prazo, por causa de um setor específico.
Assim, a queda muito intensa no Monitor do PIB de maio não significa que a economia estaria em quadro muito ruim naquele mês, necessariamente.
“Podemos dizer que, nos primeiros meses do ano, pareceu que a economia estava muito melhor do que estava por causa da soja, da agropecuária; e agora parece que a economia está muito pior, também por causa da agropecuária”, resumiu.
No entanto, a especialista admitiu que, mesmo sem a influência da agropecuária, o Monitor do PIB teria caído em maio, embora não de forma tão intensa. Atividades de peso na economia, pelo lado da oferta e da demanda, apresentaram recuo, no indicador do mês, em diferentes comparações.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias caiu 0,8% em maio ante abril, bem como o consumo do governo, com recuo de 1,1%, na mesma comparação. Pelo lado da demanda, serviços, que representa quase 70% do PIB, caiu 0,1% em maio ante abril.
Entretanto, o quadro de maio não interfere nas projeções anuais para a economia brasileira, no entendimento da técnica. O desempenho da atividade, puxado pela agropecuária, foi muito bom no primeiro trimestre, o que deve acabar equilibrando cenário de maior retração, no segundo trimestre. Em outras comparações, o indicador da FGV mostrou taxas positivas.
No Monitor do PIB, a economia cresceu 1,8% em maio ante maio de 2022 e, no acumulado em 12 meses até maio, sobe 3%. “Mesmo com o que ocorreu em maio, creio que, no ano, estamos mais próximos de uma alta [no PIB] de 2% do que de 1% em 2023”, disse.